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JOVENS DE AÇAILÂNDIA-MA GANHAM PRÊMIO FAPEMA DE DESENVOLVIMENTO HUMANO POR PESQUISA SOBRE PIQUIÁ DE BAIXO
Por meio do projeto Vigilância Popular em Saúde, eles estudam e monitoram os impactos das atividades industriais no bairro Piquiá de Baixo, conhecido pelo alto índice de poluição
Dois jovens de Açailândia (MA) foram vencedores do prêmio Fapema 2017 Neiva Moreira, na categoria Desenvolvimento Humano. A solenidade de premiação dos indicados ocorreu na última terça-feira (5), na sede da Federação das Indústrias do Estado do Maranhão (FIEMA). Os jovens representaram um grupo que faz parte do projeto Vigilância em Saúde, desenvolvido em uma comunidade açailandense chamada Piquiá de Baixo, conhecida pelos altos índices de poluição.
De acordo com o edital da Fundação de Amparo à Pesquisa ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), esta categoria contemplou as iniciativas da sociedade, cujos atores desenvolveram, entre julho de 2016 e junho de 2017, conhecimentos não acadêmicos, mas pautados pela experiência cotidiana e com comprovada contribuição para o desenvolvimento humano, preservação sociocultural e para concepção de novas tecnologias.
O projeto desenvolvido em Piquiá de Baixo começou quando um grupo de jovens decidiu estudar os impactos das atividades industriais e de siderurgia instalados na comunidade e que emitem muitos poluentes. Desde o ano de 2016, eles participam, juntamente com um grupo de jovens de Santa Cruz (RJ), de capacitação, que incluiu visitas à sede da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro (RJ), para aprender como seria feito o monitoramento e assim medir a poluição do ar. O projeto, que foi financiado pela organização Medico International, recebeu o apoio da Justiça nos Trilhos, Fiocruz e Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS) e possibilitou a esses dois grupos acompanharem os índices de poluição do ar em suas comunidades.
Esse projeto permite trazer resultados concretos sobre a saúde dos moradores, como explica Gerliane Chaves. “Dificilmente as empresas divulgam relatórios de qualidade do ar, e quando temos acesso ao monitoramento deles, em seus relatórios consta que eles cumprem com a legislação, e que não ultrapassam os limites permitidos. Mas, morando no bairro, você sabe que isso não é verdade, nós moradores queríamos e precisávamos de uma segunda fonte para contestar o que a empresa estava dizendo”, afirmou a estudante.
As atividades desenvolvidas consistiam em fazer três medições por semana, com ciclos de monitoramento em ações específicas. Com ajuda de aparelhos, os jovens escolheram as casas para medir o material particulado do ar. O objetivo é coletar dados para serem confrontados com as informações fornecidas pelas indústrias e assim identificar se elas estão cumprindo com a legislação que estabelece índices máximos para emissão de partículas no ar. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, os índices aceitáveis de poluição do ar por material particulado são: 25 microgramas/ por m³ em 24h ou 10 microgramas/por m³ em um ano.
Além de Gerliane Chaves participaram do projeto outros cinco jovens: João Paulo da Silva, Gabriela Lima, Flávia Nascimento, Kelly Barbosa e Gleiciane Carvalho. Representando esse grupo, estiveram na premiação Gerliane e João Paulo. “O meu sentimento é o mesmo do restante do grupo que realiza o projeto: nós nos sentimos agradecidos em desenvolver esse projeto em benefício do bairro, estamos trabalhando para a nossa comunidade. Para nós isso tem um valor muito forte, inclusive sentimental, somos moradores de Piquiá de Baixo desde que nasci, sempre convivemos com essa problemática da poluição e essa premiação é um reconhecimento estadual, que para nós é muito importante”, finalizou Gerliane.
Leia o relatório completo realizado pelos dois coletivos de vigilância Popular em Saúde
Relatório sobre medições de poluentes no ar
Consagração de um pesquisador ativista
A noite também foi de reconhecimento ao professor do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Horácio Antunes, conhecido por sua atuação dentro e fora das salas de aula. Após sofrer ameaças e calúnias, por conta do trabalho realizado em comunidades tradicionais, que tem seu território cobiçado por grandes grupos empresariais, o professor teve, mais que merecido, reconhecimento do seu trabalho social e acadêmico. O prêmio foi concedido ao trabalho produzido por pesquisadores doutores que atuaram por pelo menos cinco anos, no desenvolvimento de trabalhos científico-tecnológicos, em pesquisas sediadas no estado do Maranhão nas áreas das Ciências Humanas e Sociais.
Em sua atuação, destaca-se a coordenação do Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA), que tem realizado um projeto de Formação Política aos jovens atingidos pela Estrada de Ferro Carajás e sua logística de mineração. Participa também do Movimento de Defesa da Ilha e também faz parte da Diretoria Consultiva da Justiça nos Trilhos.
Por Lidiane Ferraz