Em 2 de Março de 2017, membros da rede ecumênica Iglesias y Minería (IyM) [1], e outros membros destas organizações se reuniram no Vaticano com o Cardeal Peter Turkson, prefeito do Discatério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral.
A rede foi representada por Joselma Alves de Oliveira, moradora da comunidade de Piquiá de Baixo, na Amazônia brasileira, afetada por altas taxas de poluição minero-siderúrgica e em luta para defender seus direitos. Joselma foi, dias atrás, na ONU, onde informou os relatores especiais do Conselho de Direitos Humanos, que atuam no caso desde 2014, sobre os progressos e emergências em sua comunidade.
A reunião se iniciou escutando as palavras de Berta Cáceres: “Despertemos, despertemos a humanidade! Não há tempo. Somos seres surgidos da terra, da água e do milho, dos rios, somos ancestrais custodiantes. Dar a vida de muitas maneiras para a defesa dos rios, é dar a vida para o bem da humanidade “.
Exatamente um ano antes Berta foi assassinada e, recentemente, pessoas ligadas a grupos de militares e empresas mineiras foram apontados como os principais suspeitos pelo crime. Em 2015 [3], três pessoas – a cada semana-, foram assassinadas por defender sua terra, suas florestas e seus rios contras projetos destrutivos. Conflitos com indústrias mineiras e extrativas foram a principal causa dessas mortes.
A rede Iglesias y Minería pediu ao Discatério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral apoio e proteção às vítimas, em continuidade com a reunião realizada em julho de 2015 no Vaticano, com 30 líderes afetados pela mineração em todo o mundo.
Criticou a iniciativa das empresas de mineração que tentam aproximar às hierarquias das igrejas para buscar legitimidade e informou ao Cardeal que as visitas recentes nos territórios, oferecidas pelas companhias aos membros da igreja, em muitos casos não incluem voz crítica das comunidades afetadas e das organizações que tentam defendê-las.
Uma carta dos bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas da Colômbia e outra carta da sociedade civil organizada colombiana tratando desse ponto foram entregues ao Cardeal Turkson, que expressou a sua distância desta iniciativa e comentou que não têm ligação com o Vaticano.
Para Bernt Nilles, da CIDSE, “existem obrigações legais e normas vinculativas que as empresas precisam respeitar. É muito importante um diálogo da Igreja com as empresas e um esforço para que haja ética na mineração, mas o diálogo não pode acontecer sob estas normas obrigatórias. ”
Iglesias e Minería informou ao Sr. Cardeal sobre sua boa colaboração com o Departamento de Justiça e Solidariedade da Conferência Episcopal Latino-Americana (CELAM), a partir do qual se quer fortalecer iniciativas descentralizadas de formação e debate sobre a mineração entre igrejas e comunidades, para defender os defensores dos direitos humanos e para promover os direitos das comunidades aos seus territórios.
O Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral quer publicar um documento sobre mineração, exatamente ao serviço desse tipo de atividades formativas e incentivar as Conferências Episcopais a se pronunciarem claramente em defesa das comunidades afetadas pela mineração.